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"Destruir esse lugar 

é um estupro ambiental."

 

lUCIANO - AMBIENTALISTA E FOTOGRAFO

Árvores, peixes, aves das mais variadas espécies. Todos se misturam e formam um mini pantanal paulista. Único em todo o estado, o Tanquã é conhecido pela sua diversidade e beleza singular. É lá que, anualmente, aves migratórias oriundas principalmente do hemisfério norte vêm em busca de abrigo, alimento e calor. A construção de uma barragem afetaria esse ecossistema.

 

De acordo com a professora de biologia da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP), Silvia Gobbo, com uma barragem, o bairro Tanquã desapareceria, causando uma perda irreparável. Ela afirma que, quando se transforma um rio em lago, a água corrente e oxigenada torna-se parada e com menos oxigênio, gerando variações de temperatura. Com isso, os peixes que atualmente existem no rio Piracicaba desapareceriam, uma vez que estão acostumados com água corrente e não se adaptariam à água parada. Além disso, a fauna de uma represa já é considerada “mais pobre” por conta de seu espaço, fato que já altera a pesca dos moradores daquela região.

 

 

A crise hídrica é outro fator importante a ser lembrado. Considerando sua ligação às mudanças climáticas e à ocorrência de eventos extremos, como secas ou inundações muito intensas, Silvia alerta para os recorrentes impactos: “avaliando a represa, no caso de uma enchente, ela seria pior para Piracicaba porque o lago estaria muito próximo à cidade, provocando uma inundação mais demorada e mais alta, até a Rua do Porto”.

 

Em caso de seca, ela afirma que a qualidade da água pode tornar-se muito ruim, devido ao despejo de dejetos e a baixa oxigenação. É necessário, além disso, considerar que a região está em uma área de recarga do Aquífero Guarani (território com capacidade de absorver água da chuva e leva-la até o lençol freático, onde está o aquífero), ter uma água de má qualidade pode ser gerador de contaminação para esse sistema.

 

O promotor público do Ministério Público de São Paulo, Ivan Carneiro Castanheiro, lembra que a área de inundação serve como abrigo para espécies em extinção e aves que migram entre o hemisfério norte e o hemisfério sul para descansarem e se reproduzirem. Extinguir esse habitat natural leva à interferência dos hábitos dessas aves, uma vez que elas utilizam como meio de alimentação os peixes e vegetação que sobrevivem ao período de estiagem.

 

Ivan Carneiro comenta que os impactos ambientais fazem com que o MP questione os valores econômicos versus ambiental e social, pois a legislação ambiental do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) rege que, para fazer um estudo das recorrências do abalo gerado pela barragem, deve-se levar em consideração o custo-benefício, impactos positivos e negativos e avaliar se existe outra alternativa ocupacional para o empreendimento.

 

Uma intervenção com menor recorrência de abalos para o bioma, segundo Carneiro, poderia ser a construção de uma ferrovia, que chegaria não somente até Ártemis como também Santa Maria da Serra, em que já existe o porto da hidrovia Tiete-Paraná. Essa alternativa diminuiria consideravelmente as questões ambientais para o pequeno pantanal.

 

Para chamar atenção à preservação da vila e do pantanal, a Passarinhada de Apoio ao Tanquã teve sua segunda edição em 2015 no dia 30 de maio. Nela, reuniram-se fotógrafos amadores, ornitólogos e amantes da natureza para a observação, apreciação e valorização da natureza durante a transmigração. 

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